É sempre impossível ter consciência de qual foi o momento em que tudo desandou, e o processo de tentar descobrir é incrivelmente doloroso. Qual foi a frase dita, o comportamento expressado, se foi afeto demais ou quem sabe afeto de menos, foi o meu corpo, meus pensamentos ou minha dedicação exagerada? O que... o que eu fiz de errado? Possivelmente nem teve nada a ver comigo, não é? E na verdade isso quase não importa porque, como sempre, a gente é abandonada na mais completa escuridão de informações. O que me resta é o apego obsessivo por dias a fio à tristeza profunda, pensando no que foi e no que poderia ter sido, nutrindo o desejo de me esconder do mundo - sendo este uma absoluta ironia, quando penso que há apenas poucos dias o desejo era gritar pra todos o que eu estava sentindo -, acho que a exposição é sempre uma parte que dificulta tudo nessa fase, e eu preciso aprender essa lição, de uma vez por todas.
Reciprocidade é mesmo uma coisa bem perigosa, especialmente pra mim, pois sentir o gosto dessa droga de novo foi como ter uma recaída em uma substância que eu não experimentava há anos, e todo esse tempo "limpa" me deu a falsa ilusão de que eu estava imune. É sempre assim com os vícios, né? Eu é que subestimei o poder que teria sobre mim. O pior de tudo é que foi uma dose tão medíocre, tão ínfima que, por Deus... me sinto patética. Patética. Mas eu sei que dessa vez vai ser diferente, o tempo até que eu esqueça tudo, até que eu esqueça você, será muito menor, e pensar nisso de certa maneira me conforta. Mas ao mesmo tempo, por que diabos estou chorando?De qualquer forma, bom ou ruim, esse é o meu processo. Eu preciso sentir tudo o que tiver pra sentir. Eu quero e vou ouvir todas as músicas tristes da minha playlist montada especialmente para momentos como esse (ouvir a nossa playlist seria masoquismo demais, até para mim). Eu vou ficar borocoxô, vou falar menos do que o meu normal por alguns dias, vou evitar de responder perguntas sobre você, vou chorar algumas vezes quando estiver ouvindo as músicas tristes, mas são elas que vão dar vasão a tudo isso aqui dentro e vão guiar o caminho até a saída. Eu vou apagar seu número e arquivar a conversa, depois de alguns dias irei deletá-la completamente. Isso também faz parte do meu processo. É como se eu estivesse escondendo de mim mesma que você algum dia existiu. Julgue quem quiser julgar, mas é isso que me ajuda.
E assim, em breve, vai ser como se você nunca tivesse atravessado a minha vida e atrapalhado a perfeita harmonia que havia entre mim e minha solidão.
De bônus quero deixar algumas das músicas que ouvi enquanto escrevia esse texto e os trechos que mais fizeram doer (doer é não é problema, eu quero continuar me sentindo viva).