Quem nunca passou por uma mudança drástica
na vida realmente não sabe o que é tentar se adaptar de verdade a um novo
ambiente. Mudar de cidade, se afastar da família, acabar a escola, entrar na
faculdade, conhecer gente nova, ter um apartamento pra cuidar, sem mamãe ou
papai pra te comprar as coisas e te ajudar a sobreviver, adquirir novas, e
difíceis, responsabilidades, aprender a andar de ônibus, enfrentar a
hostilidade do trânsito de uma capital... Ufa! Inclusive, você só aprende o que
é ter alguma responsabilidade na vida quando precisa comprar o seu próprio
papel higiênico.
Nada é mais triste nessa onda de
~independência~ do que sentir fome e não ter o que comer (leia-se: e não ter
uma comida fácil de comer). Era tão mais descomplicado estar no ensino médio,
ser a manda chuva da escola, conhecer todo mundo, invadir a secretaria, tirar
brincadeiras com a secretária, e ter intimidade com todos: do coordenador
aos faxineiros. Ser conhecida e reconhecida.
Daí chego na faculdade e ninguém
liga pra quem eu sou, pro que eu faço, sou obrigada a pedir licença pra entrar
e sair. É verdadeiramente difícil pra mim isso de não poder falar do jeito que eu
quero com professores e funcionários da instituição, eu me acostumei a ter sempre
essa postura.
Imaginava, no cúmulo da minha ingenuidade, que morando numa cidade grande, sem meus pais, poderia sair por aí e curtir
minha liberdade, sonhava em ir pra todos os shows legais que só chegava a ouvir
falar enquanto estava enfiada lá no meu interior... Balela!!! Mal saio de casa.
Eu nunca pensei que, para ir pros tais shows, eu precisaria de, primeiramente,
coragem para sair de casa, e depois de DINHEIRO. Sou mesmo uma verdadeira
caipira. Mas acho que, na verdade, eu que não nasci pra ser jovem. Nasci velha. Não
faço loucuras, ainda não botei nenhum piercing, não madruguei na rua, não fui a
nenhuma festa, até o meu cabelo é virgem.
Meus programas na cidade grande se resumem em:
cinema. Pelo menos isso, tive a imensa sorte de vir morar num apartamento
que fica bem do ladinho da minha paixão. Se não fossem os filmes, minha vida
estaria mais monótona do que quando eu ainda vivia entre as vacas e galinhas.
Mas calma aí, eu to sendo dramática demais, essa vida de universitária não é de
todo ruim, aliás, NÃO É ruim. Eu adoro TER essa liberdade, embora eu não a
aproveite como deveria. Só que nunca é tarde pra tentar. Começarei indo mais vezes à barraquinha de cachorro-quente, só pra mudar um pouco minha rotina.